O meu segundo estágio começa muito em breve e estou com medinho, confesso. É uma tarefa mais difícil, que exige máxima concentração. É algo que pode prejudicar a minha saúde e a dos outros, caso eu faça asneira. Portanto, não é brincadeira nenhuma. É esta parte que me assuta mais. Maaas... vamos pensar que corre tudo bem (Não há outra hipótese!). Neste estágio, basicamente toda eu tem de ir o mais natural possível. Nada de maquilhagem, não posso ter unhas compridas nem pintadas. Não posso usar brincos, anéis, relógio e todos esses acessórios. Não posso ter as pernas à mostra, logo nada de saias, vestidos ou calções. O mesmo se passa com os pés, nada de sandálias. Quanto à roupa em si, não interessa lá muito o que vou vestir. Não vale a pena perder tempo a escolher porque vou estar o dia todo de bata ou com a farda descartável do bloco. Com o cabelo a mesma coisa, nunca vai andar solto e está quase sempre tapado. Pronto, e vai ser esta a minha vida durante dois meses. Não digo que ache muita piada. Eu vivo bem sem maquilhagem porque quase não me maquilho no dia-a-dia. Mas tudo o resto é capaz de me fazer falta. Pelo menos esticar o cabelo. Os brincos também. Enfim... Valores mais altos se levantam. O que tem que ser tem muita força e dois meses passam a correr. Se me virem por aí toda desarranjada, não liguem. É por uma boa causa.
Às vezes sou um bocado nervosinha, confesso. Ultimamente tenho andado mais calma (ou pelo menos tentado) mas há coisas que me tiram mesmo do sério. Ora bem... A minha vida não é propriamente desocupada. Não tenho imenso tempo livre como gostaria. Começo o estágio muito em breve. São 8 horas diárias, 4 vezes por semana. Tendo em conta que um dia tem 24 horas, sobram 16 horas. Retirando a estas, 3 horas por dia para me deslocar até ao estágio, 7 horas de sono e 2 horas para me alimentar, o que é que me resta? 4 horas. Nestas 4 horas que estou em casa, tenho que estudar, pesquisar e ler artigos e fazer um relatório de estágio. Nos outros 3 dias que me restam durante a semana, um deles é passado a ter aulas. Os outros 2 são o fim de semana. Fim de semana esse que serve exatamente para fazer o relatório e descansar qualquer coisa. Juntando a isto, tenho um projeto de gestão, um exame em Janeiro e um projeto de investigação para fazer. Tudo para fazer este ano. Algumas coisas para fazer ainda este semestre. E, no meio disto tudo, ainda consigo arranjar tempo para os meus amigos. Obrigo-me a tal. Porque quero estar com eles. Porque não vou fazer de conta que eles não existem, mesmo estando muito ocupada. E vêm amigos meus, que têm a porcaria de 6 ou 7 horas de aulas, 5 vezes por semana, e que a única coisa que têm para fazer para além disso é estudar para 1 teste ou 2 por mês, dizer-me que não podem sair. Não podem ir a um jantar de 2 horas. Não podem ir a um café de 30 minutos. Por amor de Deus. Eu sei que existem prioridades na vida. E não é segredo para ninguém que eu tenho a faculdade à frente de tudo... Mas arranjo sempre tempo para os meus amigos. Se não posso num dia, tento logo sugerir outro. Eu própria os convido para irmos jantar ou irmos sair a algum lado. Posso ter muito pouco tempo livre. Posso ter muita coisa para fazer. Mas nunca me esqueço deles. Agora não me venham dizer que pessoas com o dobro ou triplo do meu tempo livre, não podem sair meia hora. Não podem dedicar uma noite da sua vida aos amigos. Isso para mim não é válido. É mesmo falta de vontade.
Eis que chegou o tão desejado dia (not!) em que se inicia um intensivo estudo para o estágio. Que alegria. Que vontade. Acho que de intensivo vai ter pouco. Mas prometo que vou tentar. Tenho mesmo de tentar que fique alguma coisa na cabeça se não temos o caldo entornado. Vou só ali rezar um bocadinho para pedir motivação. Sem ela, nada feito.
Há coisas que não valem a pena. Pessoas que não valem nada mas às quais damos tudo. Queremos insistir. Continuar. Tentamos até à exaustão. Contraríamos o incontrariável e não percebemos. Somos os únicos. Cegos. Um coração inconsciente e um mundo a correr em vão. Somos prisioneiros da nossa própria vontade. Ultrapassamos barreiras invisíveis só para manter a ilusão. Contornamos o mundo por alguém. Inalcançável. Que também espera. Mas não por nós. As vidas separam-se. Mas é inútil. Incontrolável. Acaba sempre da mesma forma. Juntos no mesmo sítio. Num destino forçado. Num desejo só meu.
Tenho tanta vontade de ir para a faculdade como de cortar os pulsos. Pensando bem, se calhar tenho mais vontade de cortar os pulsos. O regresso é lixado.